31/10/2015

vender víveres

carro de mão, és uma estrela de cinema fluorescente caminhando
no meio do gado caprino, dois homens bem vestidos levam-
-te pela mão, empurram-te, gritam-te impropérios, apalpam-
-te o rabo,
são trezentos euros barra (/) noite,
dizes.
trezentos euros pela epiclese do teu olho do cu,
querida.

26/10/2015

devia querer saber das ambulâncias que passam em frente ao café onde me sento mas a verdade é que para além do ruído que fazem não me interessam não me pesa quem vão buscar ou quem carregam lá dentro em urgência caminhando em direcção à morte

a mim ninguém me vem buscar de urgência e já não me quero preocupar com fingir que o resto me interessa.

22/10/2015

m.

se me ensinasses como falar espanhol
aprendê-lo-ia
como uma criança a quem obrigam a comer
couves-de-bruxelas porque faz bem
ao corpo

e ao teu lado é possível que o espanhol
faça bem à alma embora
no século xxi não caia nada bem
acreditar-se na alma

mesmo que não tivesse nada para te ensinar a ti
(não tenho nada para te ensinar)
para além da ciência urgente e necessária
de se gostar de couves-de-bruxelas

13/10/2015

a água descendo
subindo não

afinal

devias mesmo
ter gritado alguma
coisa

antes de ires
embora.

foda-se.

06/10/2015

stuff my mouth
with nitroglicerine and
push me down a
skyscraper

face first.

03/10/2015

URETRA

fala-lhes do desconforto de se ter um bisturi no
escroto enquanto os médicos te acariciam a testa
e te garantem que vai correr tudo bem;

faz contas de cabeça, tudo é matemática aborrecida,
tudo é calmo e inócuo,
está tudo preparado para ser destruído

em ácido, num grande incêndio.