31/10/2012

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Fugia à polícia e foi só por isso que não deixei que baixasses a cabeça e me abrisses a braguilha e me envolvesses a piça na boca, me lambesses o narço ao volante. A polícia tem este hábito estranho de importunar as vontades, mas a verdade é que tenho um farol de trás fundido e não me convinha ser multado. Desculpa-me ter evitado um broche enquanto conduzia, garanto-te que não foi por mal, nem sequer teve nada a ver com experiências anteriores que tivessem corrido mal. Aliás: não falemos de experiências anteriores, dos dentes alheios, que não eram os teus, e que em torno do caralho me magoavam, me arranhavam. Não falemos disso, que me incomoda, ainda que a ti não.
A polícia não nos apanhou nessa noite e a única coisa em que pensava era na grafia da palavra "piça", na minha cabeça fazia de repente mais sentido escrever "pissa", "mete-me a pissa na boca e geme", mas, de qualquer forma, já era tarde, houve outros dentes, antes, que me incomodam e maceram mais a mim do que a ti, e desinteressei-me, confesso, um pouco da actividade onanista de receber sexo oral.
Um destes dias deixo-te capares-me com os dentes, deixo-te fugir a mastigar-me a pissa, a piça, fico a contorcer-me no banco do carro, a morrer não tão devagar porque o sangue pelos bancos, pelo chão, a empapar aqueles tapetes próprios do chão dos carros, junto aos pedais europeus (acelerador, travão, embraiagem), deixo-te cuspir a pissa para dentro de um aquário, para que os peixes a comam, porque lá fora a sociedade e a noite, mas aqui, entre nós, só uma vida tão normal e ridícula, desprovida de beleza, na qual nem sequer te deixei chupares-me o caralho enquanto conduzia.

23/10/2012

alinhamentos cósmicos e outras trivialidades

Quando era pequeno, o meu pai batia-me com vergastas no cocuruto, dizia que há meninos a morrer à fome em países longínquos, obrigava-me a comer a carne e o arroz, mesmo que me custasse, mesmo que estivesse há mais de meia-hora a mastigar a carne e aquilo estivesse tão mal passado e tão mole, que já só sentia saliva e sabor a coisa nenhuma rente à língua e aos dentes, mesmo que fosse juntando arroz e conseguisse engolir a pasta de arroz, primeiro, e a carne triturada continuasse ali, a dar-me vontade de vomitar, mesmo que bebesse água só para sentir pedaços de carne solta a boiar dentro da boca. Os meninos morriam à fome longe de mim e eu pensava em mandar-lhes o meu bolo alimentar, mas pensar isso era injusto e infantil. Era o que me apetecia, ser injusto e infantil, com os olhos cheios de água, com a boca cheia de água, a carne mal triturada a boiar na água, dentro da boca, distrair-me com os cortinados (no verão, umas coisas de renda com peixes, no inverno, cortinas pesadas com patos amarelos e laranja), distrair-me com a rádio, para não ligar às porradas no cocuruto, que magoavam e me davam vontade de vomitar. Nunca pensei "o meu pai é uma besta", pensava sempre "os meninos da minha idade estão a morrer à fome em África, na Ásia, na América do Sul", sem nunca saber muito bem onde era a África, a Ásia, a América do Sul, a imaginar de forma nítida os meninos da minha idade, de barrigas inchadas, a berrar, enquanto eu, dentro de um vidro inquebrável, vomitava a carne mal triturada e me ria nas suas caras, sem me aperceber, quando a minha vontade era cuspir a comida para as mãos e oferecê-la a todas as crianças da minha idade que morriam de fome.

19/10/2012

Real Companhia de Tabacos e Outras Drogas

urge lavar as mãos, pois quando as coloco cerca da boca e, por consequência de proximidade, do nariz, intoxica-me e desagrada-me o excessivo odor a tabaco seco e velho. por vezes é necessária uma certa dose de higiene, ainda que pequena.

17/10/2012

a mim irritam-me pessoas hipocondríacas

«a maior onda jamais surfada foi cá em Portugal, na bonita praia da Nazaré.»
«na pitoresca praia da Nazaré, Costa de Prata deste nosso Portugal, surfou-se a maior onda de que há registo.»

(a poesia parece inútil para toda a gente, menos para mim. mas a maior onda surfada, de que há registo, interessa a um grande número de pessoas e, a mim, não. por isso, estamos quites.)

é urgente que componhamos uma palavra nossa

o meu pé direito está pronto a cair dentro de dois ou três dias, de doença, de nervos, de gangrena gasosa. o meu pé direito nunca mais se desprende e, de um dos lados, continua dormente. pergunto-me se algum dia irá passar. mais valia que caísse de uma vez por todas.