25/02/2016

o olho do cu, meu amor, o olho do cu
aberto ou fechado não
vê rigorosamente nada, vê escuro mas não
sente sequer que vê, não
tem a terminação biológica para ver; está
cego mesmo quando lhe
roço com a ponta dos dedos e lhe enfio
um lá para dentro até
à falange.
(já te disse hoje que te amo?)

22/02/2016

março

a poesia
é para gente
doida da
cabeça que
ainda quer
à força
acreditar
em toda
a merda

própria
de crianças

os adultos
escrevem
prosa
pelo menos
para não
estragar
papel e
desperdiçar

espaço.

20/02/2016

maria

gosto do teu casaco
branco
conforme passas
e das tuas
nádegas
abaixo
sem pedir
desculpa

espero que
no mínimo
dezasseis anos
quando o mais
certo sejam
14

(e catorze
dói
muito na
ilegalidade

porque te
fornicaria
na mesma)

14/02/2016

traz pão quando fores à cidade
traz pão ainda quente num saco de pano
e vem por onde não te cortes nas folhas
das canas
por onde não encontres cães

mas só se te lembrares
não há pressa nem fome
agora
se não te for incómodo
traz pão
e manteiga também
para o lanche

quando fores à cidade e fugires
pelos caminhos onde há cães e
onde encontras pessoas que magoam
mais que os dentes dos cães
traz pão para o lanche

e não persigas as pessoas até à
porta de casa
não lhes toques à campaínha
não lhes telefones
às três da manhã

traz só pão.

11/02/2016

foto de cara

jogo de cartas no atraso do autocarro, na lentidão dos dias, na
falta de companhia das mesas do café, nenhuma mulher com mãos
que apeteça morder.
cagar fora de casa sem vergonha é por vezes o maior sinal
que soçobra daquilo que em tempos foi a nossa identidade.