10/01/2013

memórias de um corpo esventrado #3

diz-me que coisa minha te posso dar, que podes receber da vida, sem mim... responde-me a sério. o amor pode ter murchado mas nem tu sabes isso com certeza. a solidão destrói-me como um livro guardado ao ar, numa estante, no Litoral Oeste, a ser consumido pela água, pela humidade no ar. a única coisa que resta é contar a respiração. respirar alto e ouvir, contar, um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, até nem isso, já.
onde ficares é onde quero estar, longe de doenças e de cansaço, a ser eu, contigo. há muitos anos estive sozinho e foi mais ou menos bom, custou na mesma. nos dias de hoje não é possível porque te escolhi sem ter escolhido, a cabeça pesa-me de desalento e de angústia, as noites as noites as noites os dias os dias os dias, amor, os dias as noites. hoje não sei que dia é, os carros estavam molhados de gotas espessas e cheirava a podre na rua mas não ouvi chover, não sei se choveu.
estou incompleto e com uma alma cada dia mais pequena, mais incapaz. se ao menos uma nuvem lilás pela garganta abaixo...

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