30/03/2016

17/III

de todas as certezas que tinha, a maior, a mais insistente, era a de que não conseguia estar sozinho. nunca tinha conseguido estar sozinho, o que era tinha sido sempre o que os outros lhe devolviam, o que via, de si, nos outros. hoje, já não tinha esse espelho, estava só, com a angústia de quem sabe que não aguenta estar sozinho.
pensou nos amigos do liceu e nos amigos da universidade e até nos amigos do ciclo preparatório, o que tinha acontecido a todos eles mas, sobretudo, que teria feito, de tão errado, para que todos tivessem desaparecido. nada, concluiu, não se lembrava de alguma vez se ter chateado tanto com algum, que justificasse este comportamento. depois ocorreu-lhe uma dessas frases feitas "é mesmo assim que a vida é", mas isso não o acalmou nada.
a verdade é que a vida não é nada e não tem de ser nada e, no fundo de si, ia continuar sempre a sentir-se errado de estar sozinho, nenhuma frase feita, nenhum conceito alheio que não aprendesse e tomasse como seu ia poder alterar isso.
portanto, pediu um copo de vinho tinto e enrolou um cigarro, sabendo que as coisas ficam iguais, inexoravelmente.

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