05/05/2014

rimance

a única coisa que tatuaria eram versos de poetas mortos, e seria porque os poetas que importam estão, de facto, todos mortos.

(queres falar disto aqui?
quero.)

não quero tatuagens nas costas, quero frases no peito, quero tirar a roupa e dizer com o peito aquilo que não sei dizer com a boca, «I hated you when it would have taken less courage to love», mostrar às pessoas a quem mostro o peito, a quem exibo a vergonha de ter chegado aos trinta anos e este ser o meu peito, por mais que não o tivesse desejado assim, o meu corpo já tão longe de ter sido o meu corpo, nada de poético ou bonito para se dizer acerca dele, um corpo de um homem com um degrau de idade e a falta de cuidados, o tabaco, o álcool. é no peito que devem estar as palavras que os poetas mortos disseram, para que eu não precise de as dizer, «if you have the ability to love, love yourself first», «love is more thicker than forget». e não quero fontes tipográficas exageradas e desenhadas, quero que o meu peito seja um livro, quero letras iguais às das máquinas de escrever como a do meu bisavô, como a que tive, em criança, e não usei tanto quanto devia. quero uma mulher que entenda que o meu corpo é um livro ou pelo menos um parágrafo, que eu sou um contexto dentro do meu corpo, uma mensagem no veículo de pele e ossos e carne e mau colesterol do meu corpo. uma mulher que toque nas palavras dos poetas mortos e as saiba, «Though lovers be lost love shall not; And death shall have no dominion.»

a única coisa que interessa perguntar sem voz, com a tinta na pele ao jeito de papel, é «Quels bons bras, quelle belle heure me rendront cette région d'où viennent mes sommeils et mes moindres mouvements?» e esperar que alguém possa responder oferecendo os seus.

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